...

5 views

I am in love
"Nem lembra o mar", gritavas tu, com essa voz invisível não palpável, inaudível e tenra.
"Ora, acusar o mar de surdez", gozava eu, tão ou mais invisível como a tua voz mas tão palpável como uma pedrinha que forçosamente se encaixa num sapato milagrosamente
Olhavas um azul pouco ou nada arroxeado, e eu, queimado pelo sol de meio dia, magenta.
A minha pele jorrava cores, jorrava água de um poço pouco fundo, uma página a branco traçada a linhas que a tua boca ia escrevendo
Chispavas um brilho de mulher, os teus olhos
Viravas te do avesso para te virares para mim só para me dizeres
"Morro de diabetes por te beijar?"
E enganada não estavas, pois de palavras adocicadas a minha boca era dicionária
"Monopolizas o açúcar", dizias tu entre os dentes
E a minha boca pouco ou nada mexia enquanto o meu corpo te contava as histórias que nunca ninguém teve coragem para ouvir
O mar rebatia ao som do nosso bater
Estavamos sincronizados e eu não tinha a destreza.
Por fim remataste.
"No dia em que o oceano for enterrado, o verde azul e o preto carne, achas que o nosso amor dá à costa?"
E ainda vendo o mar, sento me ao teu lado, suspiro corajosamente, ganho balanço nas palavras que tanto normalmente me custam a sair e suspiro.
"Não há praia que albergue, costa que segure, vento que leve aquilo que se está a levantar aqui"
Palavras doces em céu tão amargo
Olhas me uma ultima vez, olhar que trespassa, sinto uma pontada, uma labareda fugaz.
Que chama, chamamento em sinal de batimento cardíaco.
Só te sinto, completa.
Existimos nesse plano, planalto, onde nada é muito baixo ou pouco alto.
Onde as cores são cores e o mar sussurra cada paisagem, e passa lado a lado por onde fores.
És amor.


© AlmaDada